INCONTINĂNCIA FECAL
O QUE Ă INCONTINĂNCIA FECAL?
IncontinĂȘncia intestinal ou incontinĂȘncia anal Ă© a perda involuntĂĄria de gases ou fezes pelo Ăąnus, que ocorre em pessoas com desenvolvimento neuropsicomotor igual ou superior a quatro anos de idade. Importante ressaltar que a perda esporĂĄdica e involuntĂĄria de gases e fezes em crianças de atĂ© quatro anos pode ocorrer de modo fisiolĂłgico. O termo incontinĂȘncia fecal significa perda involuntĂĄria de fezes e tem sido utilizado como sinĂŽnimo de incontinĂȘncia anal.
A perda involuntĂĄria de fezes Ă© uma condição frequente e representa um grande impacto negativo na qualidade de vida de seus portadores, comprometendo sua autoestima e levando ao isolamento social, alĂ©m de, obviamente produzir importante limitação profissional. Os problemas psicossociais e econĂŽmicos ocorrem em todas as faixas etĂĄrias. Nas crianças, levam a dificuldade no relacionamento escolar; em adultos jovens, a problemas na manutenção do emprego e no relacionamento matrimonial; e, na terceira idade, o aparecimento da incontinĂȘncia fecal Ă© geralmente o motivo que leva os familiares a procurarem internação hospitalar ou em casa de repouso.
O sintoma varia desde perda apenas de gases, um vazamento ocasional de fezes lĂquidas, atĂ© uma falta de controle completa sobre o Ăąnus, com perda de fezes sĂłlidas, ou seja, quando a perda independe da consistĂȘncia da matĂ©ria fecal. A incontinĂȘncia anal Ă© sete a oito vezes mais frequente no sexo feminino, principalmente em pessoas com mais de trĂȘs partos vaginais, e tambĂ©m na população geriĂĄtrica (acima de 70 anos de idade).
Apesar de ser uma condição que causa embaraços, Ă© importante procurar o mĂ©dico e expor os sintomas, pois existem inĂșmeros tratamentos disponĂveis para incontinĂȘncia intestinal que podem melhorar os sintomas e, por consequĂȘncia, a qualidade de vida.
CAUSAS
Com relação a sua etiopatogenia (Causa), Ă© geralmente complexa uma vez que vĂĄrios sĂŁo os mecanismos e estruturas que participam e sĂŁo responsĂĄveis pela contenção adequada das fezes, que vĂŁo desde: volume e consistĂȘncia das fezes, motilidade intestinal, fatores cognitivos (Cerebral) normais, componente neurogĂȘnico Ăntegro (nervos pĂ©lvicos), sensibilidade anorretal normal, esfĂncteres anais normais entre outros.
A incontinĂȘncia anal pode ser congĂȘnita (Malformação anorretal e ou da coluna lombo-sacral) ou pode ter causa adquirida. As principais causas da incontinĂȘncia intestinal sĂŁo:
DANO MUSCULAR: LesĂŁo no esfĂncter anal, pode fazer com que seja difĂciladequadamente as fezes no interior do reto, ocasionando perdas. Esse dano normalmente acontece durante o parto vaginal, principalmente nos casos de partos âdifĂceisâ e prolongados. E tambĂ©m quando se realiza uma episiotomia mediana ou se utiliza fĂłrceps. Nestas situaçÔes, alĂ©m de lesĂŁo dos esfĂncteres anais (lesĂŁo muscular), podemos ter lesĂ”es neurolĂłgicas (do nervo pudendo que inerva a pelve), e tambĂ©m infecção no local da episiotomia acarretando incontinĂȘncia anal.
DANO NOS NERVOS: A lesĂŁo dos nervos pĂ©lvicos (Nervo pudendo e seus ramos)detectam a presença das fezes no interior do reto, e controlam o funcionamento adequado do esfĂncter anal, tambĂ©m podem causar o sintoma. Normalmente, este dano Ă© devido a algumas doenças, como diabetes e esclerose mĂșltipla, e por circunstĂąncias como mĂșltiplos partos vaginais, lesĂŁo medular ou acidente vascular cerebral.
CONSTIPAĂĂO: A constipação intestinal crĂŽnica, com fezes sempre âmassudasâ eque geralmente sĂŁo difĂceis de serem eliminadas Ă© outra causa de incontinĂȘncia fecal. Nestes casos, para realizar evacuação adequada Ă© necessĂĄrio muito esforço por tempo prolongado, fazendo com que, apĂłs vĂĄrios anos, os mĂșsculos e nervos fiquem fracos (estiramento crĂŽnico), e nĂŁo consigam conter as fezes, ocasionando perdas involuntĂĄrias.
Perda de capacidade de armazenamento (Perda da complacĂȘncia): O reto normalmente dilata para acomodar as fezes e gases, mas se ele estĂĄ com cicatrizes (fibrose) ou acabou endurecido em decorrĂȘncia de inflamação, cirurgia prĂ©via, radioterapia (para cĂąncer de prĂłstata, reto ou Ăștero) ou outros fatores, ele pode nĂŁo conseguir se âesticarâ o suficiente para acomodar as fezes, fazendo com que gases ou o excesso de fezes acabe escapando.
CIRURGIAS ANAIS E RETAIS: LesĂ”es iatrogĂȘnicas dos esfĂncteres durante cirurgiase retais tambĂ©m podem causar incontinĂȘncia anal. Cirurgias para tratar doença hemorroidĂĄria, as fissuras anais e fĂstulas anais, quando realizadas com tĂ©cnica inadequada, podem causar secção parcial ou total dos mĂșsculos anais e nervos, levando a incontinĂȘncia. Algumas operaçÔes sobre o reto, principalmente as que envolvem sua retirada (protectomia) podem causar graus variĂĄveis de incontinĂȘncia fecal, que podem ser temporĂĄrias ou permanentes. Nesta situação, os principais mecanismos sĂŁo: a perda do reservatĂłrio retal, lesĂŁo muscular e a alteração da sensibilidade retal (lesĂŁo neurogĂȘnica).
SENILIDADE: Nos idosos hĂĄ a fraqueza dos mĂșsculos anorretais e pĂ©lvicos associadoslesĂŁo do nervo pudendo (neuropatia), fazendo com que a sensibilidade retal (percepção das fezes no reto) esteja alterada, ocasionando perdas fecais sem que se perceba e tambĂ©m dificuldade na contração do esfĂncter anal. AlĂ©m disso, outros fatores tais como o uso crĂŽnico de medicamentos laxantes que tornam as fezes liquidas e a formação de fecaloma no reto (bolo fecal volumoso e endurecido) que leva a grande distensĂŁo da ampola retal com perdas involuntĂĄrias, sĂŁo tambĂ©m responsĂĄveis por este sintoma.
DIARRĂIA: A diarreia Ă© uma das causas mais comuns de incontinĂȘncia fecal, issoquando o bolo fecal estĂĄ lĂquido Ă© mais difĂcil de contĂȘ-lo do que quando apresenta a textura habitual (semi-sĂłlida). A diarreia, portanto, pode originar o sintoma, mas tambĂ©m pode piorĂĄ-lo caso a pessoa jĂĄ tenha uma condição prĂ©-existente de fraqueza dos mĂșsculos pĂ©lvicos e anais.
Causas psicogĂȘnicas: IncontinĂȘncia fecal psicogĂȘnica ou encoprese Ă© a perdainvoluntĂĄria que ocorre em crianças com mais de quatro anos de idade, sem lesĂ”es esfincterianas. Ă atĂ© quatro vezes mais frequente no sexo masculino. Esta incontinĂȘncia fecal Ă© motivada por distĂșrbios emocionais, e alguns fatores contribuem para seu aparecimento: ansiedade, estresse pessoal ou familiar, preocupação excessiva com a evacuação, uso de laxativos, distĂșrbios de atenção, histĂłria de abuso sexual, entre outros. Seus portadores geralmente sĂŁo retencionistas crĂŽnicos de fezes, com grande dilatação do reto e apresentam escapes de fezes por transbordamento (incontinĂȘncia fecal paradoxal).
CondiçÔes adversas: A incontinĂȘncia fecal tambĂ©m pode acontecer em casos de prolapso retal, uso de medicamentos que aceleram o trĂąnsito intestinal, doença inflamatĂłria intestinal (retocolite ulcerativa e doença de Crohn), tumores do canal anal, sĂndrome do intestino irritĂĄvel (forma diarreica), fĂstula reto-vaginal entre outras.
Como determinar a causa da incontinĂȘncia fecal?
Uma histĂłria clĂnica cuidadosa começarĂĄ por esclarecer a causa mais provĂĄvel: partos mĂșltiplos, prolongados, com fĂłrceps, com o nascimento de bebĂȘs grandes e pesados, com o recurso de uma episiotomia (corte), lesĂ”es traumĂĄticas anteriores, malformaçÔes anorretais congĂȘnitas, determinadas doenças ou medicaçÔes. Segue-se a realização de um exame da regiĂŁo anorretal, que deverĂĄ ser complementado por outros exames de diagnĂłstico: manometria anorretal (estudo das pressĂ”es dos esfĂncteres) e ecografia endorretal (avaliação imagiolĂłgica da integridade ou nĂŁo da musculatura anal). Em alguns casos, por outro tipo de teste, serĂĄ necessĂĄrio saber se a inervação dos esfĂncteres estĂĄ Ăntegra.
Como tratar a incontinĂȘncia fecal?
Os casos leves podem ser tratados de uma forma simples com o recurso de drogas obstipantes e com a mudança dos hĂĄbitos alimentares. Em outras situaçÔes, poderĂŁo estar indicados exercĂcios para fortalecimento dos mĂșsculos desta ĂĄrea atravĂ©s da eletroestimulação ou pela realização de âbiofeedbackâ (em que o doente reaprende a defecar e controlar as fezes, alĂ©m de fortalecimento dos esfĂncteres anais). Nos casos mais graves o tratamento Ă© cirĂșrgico atravĂ©s da reparação esfincteriana. Existem hoje em dia alternativas Ă colostomia (âĂąnus artificialâ) para as situaçÔes de incontinĂȘncia severa, em que a reparação local nĂŁo teve sucesso ou nĂŁo tinha indicação: A estimulação e a colocação de neoesfĂncteres. Ă importante que o doente com incontinĂȘncia fecal saiba que dispĂ”e atualmente de possibilidades terapĂȘuticas que lhe devolvem a qualidade de vida perdida.